Eu vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela loucura...
Assim começa o poema de Allen Ginsberg mais emblemático fundador do movimento beat ao lado de Jack Kerouach e Willian S. Burroughs. Mas o objeto desse texto não é a geração beat. Retornaremos a ela mais adiante.
Jon Krakauer o autor da biografia jornalística do jovem Chris MacCandless. É renomado jornalista e escreveu sobre grandes "dramas" vividos nas montanhas. Em 1998 publica In The Wild (Na Natureza Selvagem), que se tornaria longa-metragem mais tarde. O autor tem uma ligação com a natureza e já realizou grandes aventuras, colocando-se ao lado do risco, como extasia-se ao relatar no capítulo 14.
Mas o que leva o jovem MacCandless na flor da idade a escolhas tão controversas. Não contrárias apenas aos demais, se não tantas vezes contrárias ao seu próprio propósito? Mais ainda, como é possível que um acontecimento trágico passe a ser um ideal cultuado por tantas pessoas?
O jovem MacCandless, de família prodigiosa, havia concluído a high-school com méritos, e tinha uma reserva para a universidade. Entretanto, seguindo seus instintos, alimentados desde cedo pelo contato com a natureza, mergulha numa aventura intensa na busca pelo autoconhecimento. Retrato de muitos jovens na sua idade, das mais diversas origens. Quem nunca se pegou planejando sair por aí sem destino, sem relógio, sem mapa?!
O garoto, levou isso a outro patamar. Viveu 2 anos como andarilho após desfazer-se dos bens materiais e do próprio nome. Esse último gesto, como um ato de repulsa ao laço familiar que mais tarde ficaria claro ser uma das causas da sua confusão sentimental. Vivendo do mundo, espelhado nos livros que o inspiravam, dentre eles um Kerouach (geração beat, lembra), navegou de barco, andou em trens proibidos, viveu com Hippies (geração beat), mas não aponto de partilhar o estilo de vida deles. Trabalhou em fazendas e num fast-food. Por fim seguiu para o Alaska a sua maior aventura.
O leitor atento da obra/filme ou crítico terá percebido diversas controvérsias. O jovem com aspirações ao embalo Hippie, que, no entanto, se recusa a viver ao modo deles. Chegou a afirmar ser um andarilho por opção não como os demais. Quando consegue um quarto no albergue logo se frusta, e foge ao deparar-se com o contraste social da pobreza nas ruas. Tomou decisões emblemáticas de desapego, no entanto não conseguiu deixar de procurar por algum dinheiro de tempos em tempos. Na sua aventura épica, não caminhou mais que algumas dezenas de quilômetros da civilização e no meio da vastidão de muitos quilômetros quadrados escolheu alojar-se num ônibus às margens de um trilha de caça usada por caçadores. A antítese mais emblemática; o re-batismo com o nome de Chris MacCandless no final da saga.
Isso não torna a história menos impactante. Pelo contrário, acende ainda mais a pergunta, porquê tornaram-no um mito? A resposta certamente está na similitude com tantas outras histórias com final mais glamoroso, ou nem tanto, mas, que passam despercebidas. O diferencial de MacCandless é ter parado na mão de um jornalista, que partilhara dos mesmos ideais. Krakauer o confundiu com sua própria história, justificando todas as falhas do "pequeno gulliver" como fazemos todos os dias.
E onde entra o movimento beat? O autor faz muitas referências a Kerouach, Toureau, London, escritores que têm uma raiz com o movimento. Os beat negavam a sociedade com tal, orgulhavam-se de quebrar os paradigmas, usavam drogas sem pudor justificando os fins (nem todos eram assim). Foram uma geração que mudou o conceito de jovialidade. O autor viveu essa época na sua puberdade, Chris de certa forma buscou-a na sua jovialidade. A primeira frase deste texto é do poema "O uivo" de Ginsgberg pai do beat. O poema retrata a percepção da juventude de uma época.
Portanto, biógrafo e biografia se confundem. Duas histórias se entrelaçam; o mundo ideal e o mundo factual. No fim muitos finais são possíveis.
Vale o tempo?
Agora, posso fazer minha indicação. O filme é bom, conta a história no mesmo ritmo do livro, porém sem tantos detalhes. A qualidade e interpretações não são de invejar, para falar reto, são bem ruins. Quem não conhece a história e/ou ao menos o livro pode sentir que assistiu uma ficção muito mal produzida. Contudo vale muito o tempo assisti-lo para entender como a história contada se desenvolve e perceber que sem o melodrama do autor, seria só mais uma história comum.
Quanto ao livro; esse sem dúvida vale muito a leitura. Tanto a história, desenvolvida com ritmo próprio, quanto a riqueza de detalhes imaginados/relatados pelo autor, a retórica argumentativa e a transposição das emoções, nos confundem com o protagonista. Regularmente nos fazemos questionamentos sobre como percebemos o mundo e de que forma fazemos parte dele.
Muito mais rica será a leitura se o leitor conhecer um pouco sobre o tema que está lendo. Ler sobre o autor, ler sobre a história, e conhecer sobre as diferentes épocas abordadas no texto.
Se assim como eu, você, se encanta pelas histórias e não por aquilo que contam delas, talvez deva assistir o filme por último e vais ficar satisfeito.
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