É o nono dia de nossa road-trip e acabamos de chegar em Palhoça depois de percorrer quase 2 000 km. O clima não está dos mais empolgantes, cai uma névoa e faz frio, difícil ficar animado. No entanto, lidar com o clima é uma aceitação da natureza e nunca ficamos abalados, mesmo nos maiores perrengues fazemos tudo de maneira divertida e com disposição a aprender e ver algo novo.
Dias anteriores:
Dia Nono: Bear Grylls tupiniquim.
Assim que chegamos no estacionamento para deixar o carro e entrar na trilha, nos deparamos com um sósia do Bear Grylls. O indivíduo vestia roupa militar, calçava coturno e tinha a tiracolo uma dezena de acessórios, desde facas e cordeletes até cantis e pederneiras. Mas, não contava com a indisposição da namorada. Esta bem mais modesta, de tênis e roupa de academia, só reclamava de ter de sair na chuva. Houve o princípio de uma discussão, inclusive uma ameaça por parte do "dublê" de tirar o figurino e abandonar a empreitada.
Em 20 min a chuva diminuiu, acertamos o estacionamento com o proprietário e começamos a subida com as cargueiras nas costa. Logo atrás vinha o casal.
A trilha é muito curta e 15min depois já estávamos na casinha que demarca a entrada do Vale da Utopia do lado da Praia da Pinheira. Uma senhora cobrou R$ 80,00 de nós dois e colocou uma pulseira de identificação. Nesse tempo o rapaz da cena do estacionamento passou por nós, deu uma enrolada na senhora, dizendo que tinha trazido 40 pessoas na semana anterior, e passou na faixa.
Começando a descida já pudemos ver lá embaixo, ofuscado pela garoa, as colinas do místico vale.
Fomos direto procurar um local para montar acampamento protegidos do vento que soprava ardilosamente. Nos abrigamos atrás de algumas rochas, e devido ao frio se recolhemos.
Já no final do dia, uma janela no tempo permitiu que víssemos outras barracas montadas pelo vale. Aproveitamos ainda para dar uma caminhada e descobrir onde ficava o banheiro e o ponto de água atrás do barzinho, que fica fechado quase o tempo todo.
Assim que a noite começou a cair o número de campistas chegando cresceu exponencialmente e às 20:00 já contavam mais de 40 barracas. O fluxo seguiu noite adentro, tanto que às 23:00 saí para ver as estrelas e ainda haviam lanternas descendo a ladeira de chegada.
Dia Décimo: Um boi faminto
Acordamos às 05:30 para ver o Sol nascer. Ele apareceu bastante tímido, durou poucos minutos e logo mergulhou entre as nuvens que ainda pairavam no céu. Esse momento ficou ainda mais encantador quando um cachorro que dormira do lado da Ofurô apareceu e sentou ao lado da Bruna apreciando o espetáculo. Voltamos para a barraca e logo cochilamos.
Uma hora depois acordei assustado com um arfar no ouvido. Prestei atenção e dei conta que um animal circulava a barraca, ouvi também outros campistas falando alto sobre ele, mas ignorei. Abri um canto da barraca e vi um boi branco partindo para cima de uma das barracas vizinhas, os campistas correram e o animal roubou uma sacola com pães. Não satisfeito, menos de cinco minutos depois ele voltou, dessa vez investiu dentro da barraca, os adultos correram e deixaram uma criança pro bicho. Lá fui eu salvar o dia, saí da barraca e logo o boi veio pra cima de mim. Fui me esquivando e encaminhando para longe das barracas até que achei uma seção da cerca aberta por onde passei ele para o outro lado.
Preparamos o café, e antes de o Sol começar a arder fomos caminhar nas colinas e avistar a Prainha da Guarda do Embaú, ali do lado. No trajeto deparamos com muita gente fazendo fogueira, e lixo largado pela trilha. Também havia uma barraca abandonada, inclusive fui verificar, pois as coisas foram largadas às pressas, até a chaleira ainda está sobre um fogão de pedras improvisado. Não havia nenhum corpo dentro, deixamos lá da mesma forma.
Durante a caminhada encontramos o ermitão conhecido por viver naquelas encostas colhendo cogumelos, mas não ousamos intervir com ele que aparentou estar um tanto nervoso ou preocupado.
Retornamos para a barraca onde passamos o resto do dia deitados na grama apreciando a ociosidade, apenas interrompemos a folga para tomar banhos curtos nas águas limpas, gélidas e azuladas da Paia do Maço.
No final do dia a galera em geral foi indo embora, ficamos praticamente sós naquele paraíso. A noite caiu, dois outros casai chegaram e montaram acampamento do nosso lado. Aos poucos as nuvens que se formaram no final da tarde se dispersaram e as estrelas foram aparecendo.
Dia Décimo Primeiro: Na estrada novamente
Acordamos novamente às 05:30 e quando olhei pela porta da barraca vi uma Lua cheia linda começando a cair atrás da colina. Corri para a câmera, e antes mesmo de configurar a Bruna já me chamava para ver o Astro rei levantar no horizonte.
Tirei a foto da Lua rápido e corri para o outro lado apreciar o nascer. Em poucos minutos a explosão de cores aconteceu, mais uma vez as nuvens engoliram nosso astro.
Desmontamos o acampamento e seguimos para a Praia da Pinheira, depois fomo à Ponta do Papagaio e fizemos uma caminhada pela Praia do Sonho indo até a Ponta do Araçatuba.
Voltamos à estrada novamente, seguindo pela beira mar sempre que possível. Dessa forma entramos na Enseado do Brito, na Praia de Fora e Pontal em Palhoça, com direito a um almoço na cidadezinha.
Pela BR 101 seguimos entre o oceano e as montanhas até o quilômetro 156, quando entramos para o município de Porto Belo, nossa última grande parada da road trip.
Como já era bastante tarde e o dia tinha sido cansativo, não tivemos ânimo de sair e passamos o resto da tarde lavando algumas peças e organizando a tralha.
Próximo diário: Road-Trip em Busca do Sol - Porto Belo.
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