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Foto do escritorJonas Silva

Senhores da razão


Vemos todos os dias uma enxurrada de notícias, fotos e todo tipo de conteúdo relacionado com nossas atividades ao ar livre. Em tempos de redes sociais é de se esperar que isso aconteça. Aliás, sempre existiu alguma coisa, mas o alcance era curto e quase sempre os maus elementos morriam “dentro de casa”. Hoje a dinâmica é diferente, o alcance é mais longo da mesma forma o estrago é mais profundo. Mas, não quero fazer a crítica da rede social, meu ponto aqui é até onde quem faz essa “propaganda” perversa ou não tem autoridade para tanto.

Há muita gente na montanha, na cachoeira, no parque, tanta gente que acaba nos assustando. O turismo foi para o mato, literalmente. Pessoas que nunca antes foram para a mata são agora carregadas por centenas de folders todos os dias. Isso pode ser bom ou muito ruim, vai depender muito da relação que as pessoas desenvolvem com a natureza, se elas apenas "conquistam" alguma coisa ou criam uma conexão com a mãe terra. Há uma série de questões sobre que, posso levantar aqui ao longo dos textos, mas hoje quero focar ainda mais nos produtores de conteúdo outdoor. E antes de ser apedrejado, lembro que meus textos são de opinião, e independentes. O que quero, não é definir boas maneiras, é apenas fazer uma reflexão e incentivar você a ter senso crítico. Afinal não é o falar bonito, o falar sobre coisas que nós (interlocutores) gostamos que faz a qualidade do conteúdo.

Sem mais delongas... sou literalmente consumidor de conteúdo de aventura (se pudermos chamar assim). Acompanho notícias e matérias tanto nacionais quanto internacionais, e confesso, nesse campo não vejo tanta diferença, tirando o fato de que no Brasil a carga sensacionalista no conteúdo é do autor e não do leitor. A segunda condição fica mais clara no debate (comentários) sobre um texto quando ele está escrito/hospedado além da fronteira, aqui o autor assume uma posição absoluta induzindo no interlocutor a interpretação. Esse último ponto é o que tem me intrigado.

Sempre que acompanho textos, podcast, livros e blog tenho o cuidado de ler com cautela, refletir – como bom descartiano – e tirar minhas conclusões somente depois de ler mais do mesmo assunto, ou ainda, a depender do caso/disponibilidade, consultar eu mesmo a fonte. Nesse trabalho, um detalhe que dou bastante valor é a profundidade que o autor vive aquilo que trata. Afinal, não faz muito sentido alguém que nunca foi além dos 3 000 m ensinar comportamento em altitude.

O mundo outdoor é muito vasto, dificilmente, nunca, alguém vai ter domínio sobre nem a metade das atividades possíveis. O máximo que pode desenvolver é habilidades em alguns esportes. Há aqueles que se dedicam fielmente às trilhas, há os da escalada, do caiaque, entre tantos outros. Da mesma forma que há quem se dedique realmente a produzir conteúdo. Estes últimos são senhores da retórica, dominam a tecnologia e tem realmente dom para isso, mas e sobre o mundo ao ar livre?

Agora vamos a ferida que quero tocar. Nós do mundo outdoor não se demos conta mas estamos sendo engolidos nesse turbilhão. Existe muita gente querendo dar lição sem ter sequer dormido uma noite debaixo de chuva. Não que a opinião deles não tenha valor, mas estão cagando em nosso mundo. Vivemos muitos anos sem holofote, muita trilha foi desbravada sem a pretensão do Everest, muita montanha foi descoberta pelo simples fato de “estar lá”. E tem coisa ainda a ser descoberta. Mas hoje produtores (alguns vários) de conteúdo digital tem mudado nossas regras, colocado barreiras financeiras para tudo, desenvolvido equipamento com nomes absurdos só para cobrar mais caro. Chegamos no ponto de ter gente que passa anos comprando itens sem nunca entrar na vargem atrás de casa porque não está preparada. Muitos deles (produtores de conteúdo) defendem com unhas e dentes os "guias", que pra falar a verdade se formam na sala de aula sem saber nada de mato. Julgam qualquer um que esteja exercendo sua paixão como se fosse um criminoso, por não seguir seus (e de outros "senhores") preceitos. E pior cometem erros primários, o primeiro deles o de apontar culpados sem se preocupar com o cultivo da cultura do montanhismo - infelizmente quem guia, quase sempre, tem medo de ensinar - e quem pinta esse quadro nas redes, também. Os dois vivem do erro alheio, e o que vai acontecer se as pessoas começarem a fazer a coisa certa?

Não estou defendendo aqui que cada um saia por aí tipo “Supertramp”, mas que as pessoas precisam se dispor mais. Pense que cada regra cagada que aceitamos é mais dinheiro que vai para a conta de alguém e menos vida que vai para a nossa. Você já pensou se os Quéchuas não fossem para a Cordilheira porque não tinham a bota de R$ 2000,00, ou imagina se Colombo não saísse ao Atlântico porque a viagem era incerta. E antes que alguém fale que fogueira é crime (realmente é se tiver em local proibido) quem vive na natureza sabe onde deve e onde não deve.

Acho que agora posso ir encerrando esse texto. Já escrevi sobre o que eu queria e espero ter levado essa pulguinha para você que está lendo; sempre preste atenção no conjunto da obra de quem lhe oferece algum conteúdo. Temos pessoas incríveis na nossa redondeza, temos história encantadoras, elas geralmente não estão no holofote. Quem exerce o estilo de vida outdoor vai sempre estar disposto a ensinar e cultivar o montanhismo. Consuma conteúdo, mas não deixe que os outros decidam por você.

Agradeço por ter lido até aqui. Deixe seu comentário na sequência; ele será útil para alguém. E lembre-se, VOCÊ VAI PARA A MONTANHA SOMENTE QUANDO TEM SOL?SE SIM, VOCÊ ESTÁ FAZENDO ALGUMA COISA ERRADA!

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